de acordo com J. Gregory Dees
Em
um mundo perfeito não haveriam conflitos, portanto nem juízes ou
advogados, e nem uma série de profissões e instituições criadas
para gerenciar crises e conflitos. Infelizmente o mundo não é
perfeito, e em a desarmonia eterna é que dá vazão e significado a
ações e invenções, que buscam resolver problemas postos na
sociedade. Problemas causados pela desigualdade, esta não sanada e
até aumentada pelo sistema capitalista do mundo globalizado. Os
governos desempenham seus papéis segundo sua constituição local,
interferindo mais ou menos nas demandas sociais que, em diversos
cenários, resistem e até se intensificam. É nesse sentido que,
como fruto do nosso tempo, surge a figura do “Empreendedor Social”:
cunhado do termo tradicional, é espécie do gênero “empreendedor”.
Jean
Baptiste Say: “O empreendedor movimenta recursos econômicos de
uma área de baixa produtividade para outra de maior produtividade e
rendimento.”
Joseph
Schumpeter: “a função dos empreendedores é reformar ou
revolucionar o padrão de produção”. São são os agentes da
mudança na economia.
Peter
Drucker: “o empreendedor está sempre à procura da mudança,
reage à mudança e explora-a como uma oportunidade”.
Howard
Stevenson: Os empreendedores não só detectam e perseguem
oportunidades que passam despercebidas aos gestores administrativos,
como não deixam que os seus próprios recursos iniciais limitem as
suas opções.
Mas
uma diferenciação é necessária para que sigamos com as
considerações: empreendedores empresarial e sociais. As
características elaboradas pelos autores acima podem, todas elas,
serem aplicadas também ao empreendedor social, pois como já dito,
este é uma espécie do gênero maior: empreendedor. Empreendedores
sociais, seriam, nas palavras de Dees, empreendedores com uma missão
social. E é nesta “missão social” que residem as definições
específicas diferenciadoras de “empreendedor empresarial”. É o
impacto que a missão gera o centro de tudo, e não a simples criação
de riqueza.
Enquanto
o mercado avalia o lucro de determinada empresa e com base nisso a
sobrevivência desta, nos empreendimentos sociais, essa mensuração
é bem mais complexa, se não, subjetiva. Como aferir os resultados
de um negócio social, ou seja, a criação de valor social? Os
indicadores, até hoje, são uma das dificuldades dos empreendedores
sociais ao mensurarem seus impactos e divulgarem seus resultados.
Dees
combina as ideias de Say, Schumpeter, Drucker e Stevenson e define
empreendedores sociais como: aqueles que desempenham o papel de
agentes da mudança no setor social ao:
•
Adotar uma missão para criar
e manter valor social (e não apenas valor privado);
•
Reconhecer e procurar
obstinadamente novas oportunidades para servir essa missão;
•
Empenhar-se num processo
contínuo de inovação, adaptação e aprendizagem;
•
Agir com ousadia sem estar
limitado pelos recursos disponíveis no momento; e
•
Prestar contas com
transparência às clientelas que servem e em relação aos
resultados obtidos.
Agentes
da mudança no sector social: Os empreendedores sociais são
reformadores e revolucionários, de acordo com a descrição de
Schumpeter, mas têm uma missão social. Levam a cabo mudanças
fundamentais na forma como as coisas são feitas no sector social e
têm perspectivas ousadas. Vão diretamente às causas dos problemas,
em vez de lidar simplesmente com os sintomas e, com frequência,
reduzem as necessidades em vez de se limitarem a satisfazê-las.
Procuram criar mudanças sistêmicas e progressos sustentáveis.
Ainda que possam agir localmente, as suas ações têm potencial para
estimular melhorias globais nas arenas escolhidas, sejam elas a
educação, a saúde, o desenvolvimento econômico, o ambiente, as
artes ou qualquer outro campo social.
Adotar
uma missão para criar e manter valor social: Este é o
núcleo daquilo que distingue os empreendedores sociais dos
empreendedores das empresas lucrativas, mesmo que estas tenham
práticas de responsabilidade social. Para um empreendedor social, a
missão social é fundamental. É uma missão de progresso social que
não pode ser reduzida à criação de benefícios privados (retorno
financeiro ou vantagens de consumo) para os indivíduos. Ter lucro,
criar riqueza ou corresponder aos desejos dos clientes pode fazer
parte do modelo, mas como meios para um fim social, não como o fim
em si mesmo. Nem o lucro nem a satisfação dos clientes são a
bitola para a criação de valor; a bitola é o impacto social. Os
empreendedores sociais procuram que o investimento tenha um retorno
social de longo prazo. Querem mais do que o êxito rápido; querem
criar melhorias duradouras. Os empreendedores sociais pensam no modo
como sustentar esse impacto.
Reconhecer
e procurar obstinadamente novas oportunidades: Onde os
outros veem problemas, os empreendedores sociais veem oportunidades.
Não são apenas conduzidos pela percepção de uma necessidade
social ou pela sua compaixão; em vez disso, têm uma visão da forma
como obter melhorias e estão determinados em fazer com que essa sua
visão funcione. Os empreendedores sociais são persistentes. Os
modelos que desenvolvem e as abordagens que fazem podem mudar, e
frequentemente mudam mesmo, à medida que aprendem sobre o que
funciona e o que não funciona. O elemento-chave é a persistência
combinada com uma prontidão para efetuar ajustamentos à medida que
avançam. Em vez de desistir quando encontram um obstáculo, os
empreendedores perguntam-se “Como é que este obstáculo pode ser
ultrapassado? O que é que pode ser feito para que isto funcione?”
Empenhar-se
num processo contínuo de inovação, adaptação e aprendizagem:
Os empreendedores são inovadores, desbravam novos territórios,
desenvolvem novos modelos e fazem abordagens pioneiras. Contudo, tal
como é apontado por Schumpeter, a inovação pode revestir-se de
muitas formas e não implica inventar algo totalmente novo: pode ser
simplesmente aplicar uma ideia já existente de uma forma nova ou a
uma nova situação. Os empreendedores não têm de ser inventores,
têm apenas de ser criativos ao aplicar aquilo que outros inventaram.
As suas inovações podem revelar-se na forma como estruturam os seus
programas ou na forma como angariam os recursos e financiam o seu
trabalho. Do lado do financiamento, os empreendedores sociais
procuram formas inovadoras para garantir que os seus empreendimentos
venham a ter acesso a recursos enquanto criarem valor social. Esta
disposição para inovar faz parte do modus operandi dos
empreendedores; não é apenas uma explosão isolada de criatividade,
é um processo contínuo de exploração, aprendizagem e melhoria.
Como é óbvio, com a inovação vem a incerteza e o risco de falhar.
Os empreendedores têm tendência para serem altamente tolerantes à
ambiguidade e aprendem a gerir os riscos a que eles e os outros estão
sujeitos. Encaram o fracasso de um projeto como uma experiência de
aprendizagem e não como uma tragédia pessoal.
Agir
com ousadia sem estar limitado pelos recursos disponíveis no
momento: Os empreendedores sociais não deixam que os
seus próprios recursos limitados os impeçam de levar a cabo as suas
ideias. São peritos em fazer mais com menos e a angariar recursos de
outros, usam eficazmente recursos escassos e potenciam os seus
limitados recursos ao atrair parceiros e ao colaborar com outros.
Exploram todas as opções de recursos, desde a pura filantropia até
aos métodos comerciais do sector empresarial. Não estão limitados
pelas normas e tradições do sector e desenvolvem estratégias de
recursos que tenham possibilidade de apoiar e reforçar as suas
missões sociais. Assumem riscos calculados e gerem os aspectos
negativos de modo a reduzir os danos na eventualidade de fracassarem.
Têm a percepção da tolerância ao risco das partes interessadas e
usam-na para distribuir o risco entre aqueles que estão melhor
preparados para o aceitar.
Prestar
contas com transparência às clientelas que servem e em relação
aos resultados obtidos: Uma vez que a disciplina do mercado
não elimina automaticamente os empreendimentos sociais ineficientes
e ineficazes, os empreendedores sociais tomam medidas para garantir a
criação de valor. Isto significa que procuram um entendimento
sólido das clientelas que servem, assegurando-se que avaliaram
corretamente as necessidades e os valores das pessoas que pretendem
servir e das comunidades em que atuam. Nalguns casos, isto exige
ligações estreitas com essas comunidades. Os empreendedores sociais
têm a noção das expectativas e dos valores dos seus
“investidores”, incluindo todos aqueles que investem dinheiro,
tempo e/ou conhecimentos para os ajudar. Procuram fornecer
verdadeiras melhorias sociais aos seus beneficiários e às
comunidades destes, assim como um retorno atrativo (social e/ou
financeiro) para os seus investidores. Ajustar os valores dos
investidores às necessidades da comunidade é uma parte importante
do desafio. Quando isso é exequível, os empreendedores sociais
criam mecanismos de retroalimentação idênticos aos do mercado para
reforçar a prestação de contas. Avaliam os progressos em termos
dos resultados sociais, financeiros e de gestão, e não simplesmente
em termos de dimensão, produtos ou processos, e usam esta informação
para efectuar correcções de rumo em função das necessidades.
Fichamento
com citações:
DEES,
J. Gregory. The Meaning of Social Entrepreneurship. 2001.
Disponível em:
https://entrepreneurship.duke.edu/news-item/the-meaning-of-social-entrepreneurship/.
Acesso em: 15/05/2018.
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