TDAH - Relato pessoal e estratégias para uma vida boa


Hoje venho falar sobre uma característica psicológica que me acompanha desde sempre, o Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH. Hoje, com quase 28 anos, sou advogada, servidora federal, mestranda e presidente de uma organização sem fins lucrativos. Pareço uma pessoa extremamente produtiva, focada e organizada, mas não é bem assim.
Começo dizendo que TDAH é genético, e que na minha família paterna há inúmeros casos, inclusive meu pai, meu irmão e eu. Em menino a dimensão hiperativa geralmente prevalece, e nas meninas é a desatenção, mas isso não é regra. Eu sempre fui uma criança muito "arteira" e agitada, que não escrevia nada nos cadernos, mas tinha desempenho acadêmico aceitável. Meu irmão por sua vez, era impossível, oferecia risco a si mesmo pelas traquinagens perigosas que deixaram inúmeras cicatrizes pelo corpo. Ele foi o primeiro a ser diagnosticado, logo na primeira série do primário pois não conseguia terminar uma única frase no caderno. Eu demorei a procurar tratamento pois, embora perdesse coisas, esquecesse datas, me atrasasse e nunca tenha escrito nada nos cadernos, eu lia muito, devorava livros e tinha notas acima de 8.
A dificuldade só se fez presente quando cheguei à graduação, e depois ao mestrado, e fui obrigada a fazer uso de neuroestimulantes. 
Com o diagnóstico e o acompanhamento psiquiátrico, passei a estudar muito sobre o tema, a ponto de conseguir, de alguma forma, desenvolver mecanismos de contingência das características negativas como impulsividade e planejamento futuro.

No texto a seguir faço breve comentários sobre quatro indivíduos: eu, meu irmão, meu pai e meu companheiro (sim, achei um tdah só pra mim). Aprofundando a análise no meu irmão e no meu companheiro, que chamarei de @alfa e @beta.

Primeiramente, peço que assistam o vídeo abaixo e entendam a perspectiva do Dr. Russel Barkley sobre TDAH, de que é um transtorno do desempenho e não de conhecimento.



Por exemplo, a incapacidade de visualizar o futuro é uma inibição da atuação sistema límbico no córtex pré-frontal, que é responsável pela memória a curto prazo, pela distribuição da atenção, pela velocidade de processamento, pelas emoções, motivação e iniciação dos movimentos e, também pela tomada de decisões e controle das emoções. 

O meu TDAH me dificulta lidar com situações desconfortáveis, como pagar contas, tratar com quem eu considero superior, responder a prazos e cobranças, entre outros. 

Já a dimensão do TDAH predominante no @alfa e também no @beta, pende mais para controle de decisões impulsivas, execução de tarefas burocráticas e metódicas.

O meu pai e também o @alfa possuem agressividade impulsiva, que nada mais é que um desequilíbrio entre a ação do córtex pré-frontal e o sistema límbico, que leva à ativação de respostas agressivas a estímulos externos, sem que haja a reflexão adequada ou consideração a respeito das consequências negativas do comportamento. 

Neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina estão envolvidos no equilíbrio entre os impulsos e o controle que resultam de estímulos por aversão ou provocação, e são essenciais na estratégia de controle do comportamento agressivo impulsivo. 

O nosso psiquiatra dá a impressão de não dar a devida atenção nas consultas, mas ele sabe o que faz. 

No meu caso a estratégia farmacológica é de estimular o foco, diminuir a fuga de pensamento e aumentar a volição, ou seja, a força de vontade de fazer. Logo uso neuroestimulantes como a ritalina e o venvanse. 

No meu pai e no @alfa, e também no caso do @beta, a estratégia é de conter danos e reduzir riscos sociais com inibidores seletivos da recaptura de serotonina, como a Fluoxetina. O efeito da fluoxetina ocorre por meio do aumento da serotonina, neurotransmissor responsável pela impulsividade e agressividade. 

Ou seja, a droga vai só ajudar o indivíduo a pensar melhor antes de agir, e evitar possíveis danos. Para que o indivíduo desenvolva suas capacidades subjetivas é necessário um ambiente favorável que começa com autoconhecimento, apoio familiar, terapia e a compreensão de que não se trata de adquirir conhecimento e sim de facilitar os processos executivos.

Por exemplo: formação acadêmica por si só para o @alfa ou para o @beta tem pouco ou nenhum impacto para a execução de tarefas, planos e objetivos futuros, nessa direção também estão os planejamentos, esquemas e estratégias que forcem produtividade.

Tanto o @alfa quanto o @beta têm alta capacidade de assimilação de informações e aprendizado, habilidades comunicativas e operacionais altas e inteligência interpessoal fantástica. 

O @alfa, em específico tem alta empatia, inteligência musical, cinestésica e lógico-matemática predominantes, aliadas as já mencionadas comunicativa, operacional e interpessoal. 
Indicando afinidade com áreas criativas, comerciais, atendimento ao público, processos indutivos e gerenciamento de pessoas, relações-públicas e áreas operacionais como educação física e fisioterapia.
Pouca afinidade com áreas de planejamento, estratégia, análise de dados quantitativos, processos dedutivos e gerenciamento de risco

O @beta além das inteligências comunicativa, operacional e interpessoal, é proativo e tem ainda as inteligências visual, espacial, lógico-matemática e cinestésica. 
Indica afinidade com áreas comerciais, negociação, arquitetura e engenharia civil, operação de máquinas de grande porte, motivação de equipes, fisioterapia e relações-públicas. 
Tem pouca afinidade com atividades burocráticas e metódicas, análises objetivas, planejamento estratégico, finanças e orçamento, processos gerenciais e gerenciamento de risco.

Uma abordagem adequada levaria em conta a estrutura social próxima, família, amigos e chefia, para estabelecer uma rotina para minimizar turbulências diversas. Um ambiente estável tem a finalidade de evitar imprevistos que levam a reações impulsivas. Além disso, as pessoas presentes na convivência social habitual devem ter sempre em mente que é preciso, de forma contínua, reafirmar os sonhos e objetivos traçados, pois é aqui que reside o dilema fundamental de todo TDAH: é um transtorno do desempenho, ou como diria o Dr. Russel Barkley, uma miopia de eventos futuros.